A queda no número de espíritas: uma preocupação legítima?
Está sendo muito cansativo receber dúzias de publicações elaborando “profundos” diagnósticos e receitas de solução para a queda no número de pessoas que se declaram “espíritas” no censo do IBGE recentemente divulgado. A maioria desses comentadores, por sincera que seja a sua preocupação com os números, não pode falar mais do que de suas impressões.
Soluções simplistas e discursos polarizados
Todos suscitam exortações como “precisamos de mais música, mais abraços, mais festas, mais cores, mais fogos de artifício, mais isso e aquilo”, quando não dizem que o movimento é “conservador” demais e precisamos de pautas propícias à polêmica político-ideológica (geralmente sob o ângulo nomeadamente “progressista”) invadindo as instituições espíritas.
Falta de dados sólidos: um obstáculo à análise séria
Quem entre esses panfletários afoitos tem uma base de dados sólida o suficiente para afirmar peremptoriamente quais são as causas?
Possibilidades múltiplas e combinadas
Porque sim, pode bem ser que sejam várias – e provavelmente são.
Pode ser que, como aventam alguns estatísticos, o número de adeptos de cultos de matriz africana dispostos a se assumir como tais tenha aumentado (em conjunto, triplicaram em número), sendo que antes se ornavam do título de “espíritas”.
Pode ser que tenha aumentado o número de espíritas dispostos a não rotular o Espiritismo como “religião” (velho debate que prefiro nunca mais travar pelas redes sociais, considerando que a palavra está longe de ser a questão mais importante; as pessoas não estão dispostas a tolerar a inevitabilidade das polissemias e estão convencidas de que a acepção do termo que empregam é a única universalmente aceitável, então que seja).
Pode ser, como eventualmente me parece, que o impacto de certos influenciadores em redes sociais sobre suas “bolhas” de seguidores, sob a dinâmica dos algoritmos, esteja reforçando a adesão a outras crenças para a satisfação de certos fins identitários. Pode ser muita coisa ao mesmo tempo. Convém não formular sentenças precipitadas.
Foco nos princípios, não nos números
Não me importam tanto os dados do IBGE. Importa-me o que é o certo.
Proposta de reforma para os centros espíritas
O que defendo, defendo independentemente dos números: os centros espíritas deveriam se reformular, assumindo a posição de instituições culturais destinadas à divulgação séria do pensamento espírita tal como consta das obras fundamentais, além de pontos de convergência para o fomento de grupos particulares, em um modelo intermediário entre o atual e o que era vivenciado na França do século XIX, que não interdite a atividade mediúnica fora das paredes das grandes instituições.
O que não deve ocupar espaço no movimento
O que vemos, por mais vezes do que gostaríamos, são pregações de groselhas de autoajuda e conteúdos totalmente desprovidos de critério para serem acolhidos como princípios espíritas, quer venham de obras mediúnicas, quer venham de militâncias ideológicas que não deveriam ter lugar em qualquer ambiência espiritualista.
Conclusão: coerência doutrinária acima de estatísticas
O censo poderia mostrar um robusto crescimento dos adeptos declarados das ideias espíritas e eu ainda estaria defendendo isso.
Sobre o Autor
Lucas Berlanza é jornalista, escritor e presidente do Instituto Liberal. Autor de livros como "História Geral do Espiritismo: Resumo Expositivo", "O Espiritismo perante seus inimigos e desafios contemporâneos" e "O Progresso Segundo o Espiritismo"
Boa tarde Berlanza, sou o ANTONIO LUIZ DALLAQUA de SP
Gostei do seu artigo, bem enxuto, resumido e concentrado em pontos principais.
Esse pessoal está fazendo uma tempestade em copo d’agua com essa informação, a esquerda vai aproveitar isso pra querer impor mudanças extremas como apontadas por você nos “discursos polarizados.
Na verdade se esquecem que a pesquisa foi realizada em 2022 logo após a pandemia 2021 e que TODAS AS CASAS ESPIRITAS FECHARAM SUAS PORTAS E NEM PELA CARIDADE ATENDERAM OS NECESSITADOS.
Atenciosamente